O desgaste de ser professor
30/05/2006
Aprenda como pequenas mudanças de hábitos podem melhorar seu trabalho
De manhã em uma universidade, durante a noite em outra. De uma sala de aula para outra, depois de um pequeno intervalo de 20 minutos. Provas para corrigir, atividades para preparar, matérias para explicar. São horas e horas em pé, falando para a classe ou inclinado sobre a escrivaninha para elaborar a próxima aula. Ser professor é desgastante sim, mas é possível se prevenir e evitar complicações que podem tirá-lo da sala de aula por algum tempo.
Não é segredo para ninguém que a principal ferramenta de trabalho dos professores não é o livro e nem uma transparência refletida na parede: é a voz. Afinal, sem ela, seria mais difícil transmitir conhecimento para os alunos. Por isso que cuidar das "pregas vogais", mais conhecidas como "cordas vocais" é fundamental para manter a qualidade de vida e profissional dos docentes.
Com base em uma pesquisa norte-americana, feita por Nelson Roy, da University of Utah, as fonoaudiólogas Fabiana Zambon, do Sinpro-SP (Sindicato dos Professores de São Paulo) e Mara Behlau, do CEV-SP (Centro de Estudos da Voz - São Paulo) iniciaram uma pesquisa com professores e não-professores para verificar os problemas de voz que a profissão acarreta.
O estudo ainda está em fase inicial, concentrado no Estado de São Paulo, mas já tem números expressivos sobre a saúde vocal dos professores, da Educação Básica ao Ensino Universitário. "Vimos que professores e não-professores que já tiveram problemas de voz em uma porcentagem parecida. Mas os docentes têm muito mais alterações recorrentes", conta Fabiana. Dos 259 professores pesquisados, 62,9% afirmam que já sofreram problemas vocais e mais de 15% acreditam que precisarão mudar de ocupação no futuro por conta de problemas na voz.
Os motivos que levam ao desgaste vocal dos professores são, principalmente, a falta de preparo e o uso excessivo e inadequado da voz e as condições impróprias de trabalho. E não é apenas o professor que sai prejudicado, os alunos também perdem em qualidade de ensino. São aulas perdidas, matérias atrasadas e reposições feitas às pressas.
Tratando do corpo todo
Mas não apenas da voz vive o professor. Outros tipos de desgaste também atingem e podem afetar seriamente sua carreira e qualidade de vida. Problemas de postura, fadiga mental e má alimentação, que podem ocasionar queda no sistema imunológico e causar outras doenças, também são preocupantes.
O médico generalista da Faculdade de Medicina do ABC Ramiro Stelmach acredita que o desgaste do docente é conseqüência de um sistema que não funciona, no qual o professor é mal remunerado, tem pouco tempo para cuidar da saúde, não se alimenta adequadamente e muito exigido em sala de aula. "Ele dá mais aula do que deveria, trabalha quando deveria descansar, quando deveria recondicionar seus conhecimentos", afirma.
Como qualquer outro profissional, os docentes estão sujeitos a doenças ocupacionais, ou seja, causadas por conta do trabalho. Movimentos repetitivos (como apagar a lousa), manter o braço acima do ombro e ficar em pé por um longo período, atitude que pode acarretar doenças vasculares, são algumas das dificuldades que os professores obrigatoriamente enfrentam no dia-a-dia.
"Não existe uma doença que ataque somente aos professores, o que existe é um grupo de doenças que ataca as pessoas que trabalham na área", esclarece Stelmach. Por isso, o docente deve tomar os cuidados que qualquer outro profissional precisa ter. Visitas regulares a um clínico geral, a um fonoaudiólogo e a um fisioterapeuta, por exemplo, são importantes para prevenir doenças mais sérias. O médico acredita que não falte iniciativa dos professores em se cuidar, o que falta é tempo e condições favoráveis. "Eles entendem o que é uma vida melhor, mas não conseguem ter, por causa das condições de trabalho", avalia.
Foi o caso da professora de Epidemiologia e Bioestatística do UniCEUB (Centro Universitário de Brasília) ?rika Luiza Lage Favito Rezende. Depois de uma semana sofrendo com rouquidão, mas sem parar de lecionar, ela só procurou ajuda médica quando perdeu totalmente a voz. No consultório, descobriu que estava com uma forte infecção na garganta e, por isso, seria obrigada a fazer um tratamento com antibióticos e ficar uma semana em repouso, sem poder falar.
"Quando voltei, informaram que eu tinha que repor todas as minhas aulas, ou não receberia nada. O problema é que, com isso, acabo falando mais do que se tivesse apenas as aulas normais", explica a professora. Ela acredita que o regime horista de trabalho seja um fator agravante para a saúde do docente, já que força o profissional a ir até o limite sem pedir um dia de licença.
De quem é a culpa?
Muitas vezes o professor entra no mercado de trabalho sem ter informações básicas de como cuidar da voz, e assim, ele não procura ajuda profissional para prevenir, e sim para tratar um problema que já existe. "Seria interessante que o professor tivesse, durante a sua formação, algo para aprender a cuidar da voz", diz Fabiana.
No entanto, não se pode simplesmente inocentar os professores. Com simples mudanças no dia-a-dia já é mais fácil cuidar da saúde, mas falta consciência, até mesmo para quem já sofreu com desgastes. "Para ser sincera, não passei a me cuidar mais depois do problema. A gente volta no ritmo e continua. Tenho consciência de que estou correndo o risco", esclarece ?rika.
Tentar organizar uma rotina equilibrada, manter sempre os mesmo horários, melhorar a alimentação, separar tempo para descanso e lazer, fazer aquecimento vocal e corporal antes e depois das aulas e, principalmente, visitar o médico regularmente são algumas dicas que ajudam a superar o desgaste da profissão, manter a qualidade do trabalho e ter uma carreira bem-sucedida no mundo acadêmico.
Veja abaixo um quadro de ações que podem colaborar com a sua qualidade de vida na atividade profissional
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Fonte: Sinpro-SP |
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